Morumbi tem rotina de medo após mais de 100 casas assaltadas neste ano

Nem nas redondezas da sede do governo do Estado, o Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, Zona Sul de São Paulo, paulistanos se sentem seguros. Mansões e casas de luxo têm sido alvos constantes de quadrilhas de assaltantes. Só na área do 34º Distrito Policial (Vila Sônia), de janeiro a dezembro deste ano, foram comunicados à polícia 105 roubos e 78 furtos a residências , segundo levantamento da delegacia responsável por apurar crimes cometidos na área do Morumbi.

Oficialmente, a Secretaria da Segurança Pública do Estado não divulga as estatísticas criminais de outros bairros para comparação. Nas reuniões do conselho de segurança, os moradores pedem não só mais policiamento ostensivo como também a investigação dos crimes para punir os criminosos. Enquanto a tranqüilidade não retorna ao bairro, considerado um refúgio para os endinheirados de São Paulo, moradores vivem uma rotina de medo, cada vez mais encastelados e dependentes de seguranças particulares.

Troca de delegados

Em menos de um ano, o 34º DP já foi administrado por pelo menos três delegados. O atual delegado titular, Arthur Frederico Moreira, diz que, desde que assumiu o cargo no dia 2 de outubro, descobriu os responsáveis por seis roubos, embora nenhum deles tenha sido preso ainda.

O policial diz que cerca de 10 suspeitos devem ser presos em breve, mas informa que ”a falta de punição” na esfera judicial acaba estimulando a ação das quadrilhas. “Não vamos amenizar. É só botar as quadrilhas dentro das grades”, diz o delegado.

Vítimas reclamavam que alguns delegados não solicitavam perícias após os crimes. Desde que assumiu, Moreira disse que atendeu a um pedido do Conselho Comunitário e passou a exigir dos plantonistas que solicitem exame pericial dos locais dos roubos e furtos. Ele diz que a perícia é fundamental para a investigação, mas não comenta inquéritos antigos.

Em casos de roubos e furtos a residência, a perícia pode servir para coletar impressões digitais deixadas pelos suspeitos e tentar confrontá-las com as existentes no sistema da Secretaria Estadual de Segurança Pública. Falando em tese, o promotor Valter Santin, autor do livro “Controle judicial da segurança pública: eficiência do serviço na prevenção e repressão ao crime”, destacou que a perícia pode servir também para uma condenação dos criminosos a penas mais severas. “A prova pericial pode comprovar a materialidade e também servir de base para alguma qualificadora. No furto, escalada de muro aumenta a pena”, disse.



O promotor lembrou ainda que a perícia pode indicar evidências sobre a ação de uma única quadrilha em roubos e furtos de uma mesma região. Isso porque pode identificar um mesmo modo de operação adotado por criminosos em diferentes situações. “O modus operandi (modo de operação) será importantíssimo para a ligação entre os vários fatos, a comparação de estilo de procedimento de pessoas já envolvidas em atividades similares e conseqüente redução dos suspeitos, facilitando a descoberta da autoria e elucidação de vários crimes semelhantes”, declarou.

Quadrilhas diferentes

Segundo as investigações do 34º DP, os roubos, na maioria, foram praticados por quadrilhas diferentes sem planejar quem seriam as vítimas. “Os ladrões são oportunistas. Às vezes, dão o tiro numa mosca e acertam um elefante”, justificou o titular da delegacia, Arthur Frederico Moreira.

A casa do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, foi um dos alvos dos assaltantes. Outra vítima foi o conselheiro do Grupo Estado, Ruy Mesquita Filho, que também teve a casa roubada.

Segundo uma vítima, que só aceitou falar sob a condição de anonimato, os assaltantes conheciam sua rotina. Quando se preparava para dar comida aos cachorros no início da manhã de um domingo, a vítima foi dominada por quatro homens encapuzados e armados no quintal de casa. Eles pularam o muro e aguardavam uma oportunidade para roubar a residência. “Era alguém que tinha informações sobre a minha família”, disse a vítima.

Seguranças sob investigação

A polícia desconfia que vigilantes clandestinos passem informações sobre a rotina de moradores para assaltantes, embora ainda não existam provas. O 34º DP começou a elaborar um cadastro dos seguranças da área, que, caso sejam legalizados, devem ter autorização da Polícia Federal para exercer a função.

A Polícia Militar não divulga quantos policiais patrulham o Morumbi. Em nota, a corporação disse apenas que o planejamento é feito de “maneira eficiente e eficaz”. Sem especificar quais crimes foram combatidos, a PM diz também que, de janeiro a setembro de 2008, apreendeu 10 armas de fogo, deteve 89 pessoas em flagrante delito e recuperou 136 veículos produtos de roubo ou furto, na região do Morumbi.

O titular do 34º DP disse que separou um carro descaracterizado da delegacia para patrulhar diariamente a região. Para tentar flagrar os crimes, Moreira disse que solicitou também apoio de outras delegacias em rondas no bairro.

Como não viam policiamento, moradores de uma das regiões com maior incidência de roubos, perto do Estádio do Morumbi, tentaram contratar uma empresa de segurança privada para realizar o patrulhamento ostensivo do local, mas, sem saber em quais empresas confiar, desistiram.





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