Pearl Jam faz a alegria do Morumbi com clássicos e uma inédita

Nada melhor do que um fim de tarde frio e cinzento para que o Pearl Jam se sentisse em casa nas horas que antecederam sua primeira apresentação no Brasil em seis anos. Só faltou a chuva para São Paulo emular de vez Seattle, cidade natal da banda.

Cheio, mas longe de atingir sua capacidade máxima, o show extra no Estádio do Morumbi, marcado em razão do esgotamento das entradas para a primeira data confirmada (sexta, dia 4), agradou dos fãs devotos aos mais casuais.

Ansioso, o público teve que arcar com meia hora de atraso, o que suscitou interrogações e até uma tímida vaia, já que a produção anunciou na última terça um adiantamento de quinze minutos no horário de início, sugerindo pontualidade.

Enfim, sob a inusitada gravação de uma composição que lembrava o minimalismo erudito de Philip Glass, as luzes do Morumbi se apagaram. Também inesperada foi a música escolhida para abrir o show.

Ao invés de começar com uma porrada, o que é comum nos shows de rock, o Pearl Jam escolheu a melódica Release, que fecha o primeiro e mais aclamado disco da banda, Ten(1991).

Emendando Corduroy, do álbum Vitalogy (1994),  o grupo logo ganhou os presentes. Saltitaram, em seguida, entre faixas de Vs. (1993), Pearl Jam (2006), Backspacer (2009), no espírito de reviver diferentes momentos das duas décadas de carreira.

Enquanto isso, se aos 46 anos Eddie Vedder abandonou as loucuras sobre o palco que marcaram as primeiras apresentações da banda, que incluiam mergulhos sobre a plateia, a interação com o público continua sendo um dos pontos mais divertidos. Como na primeira passagem do grupo no País, em 2005, o vocalista arriscou bastante no português: “Oi galera! Estamos felizes por estar em São Paulo, obrigado por nos chamar de volta”. Com seus rugidos, o barítono Vedder continua dono de uma voz irrepreensível.

O primeiro hino absoluto da noite foi Even Flow, primeira oportunidade para Mike McCready brilhar. Empunhando uma surrada Stratocaster, o guitarrista deixa claras suas inflexões “bluesísticas”. De olhos fechados, McCready empolga a galera e se deleita sobre a sólida base instrumental garantida pelo baixista Jeff Ament, o guitarra-base Stone Gossard e o disciplinado mas cheio de pegada baterista Matt Cameron.



Eddie Vedder, que com o tempo emergiu cada vez mais como líder do PJ, chega a deixar o palco enquanto os músicos se divertem com o extenso solo, que em alguns momentos parece legitimamente improvisado.

No Code (1996) e Binaural (2000) foram os únicos álbuns não representados no show, que contou até com uma canção inédita, introduzida por Vedder como Olé. Entre as que mais empolgaram estão os hits obrigatórios Daughter, Alive Black.

O Pearl Jam voltou ao palco por duas vezes. Na primeira, Vedder dedicou a canção Come Back ao falecido vocalista dos Ramones, Joey Ramone. I Believe in Miracles, clássico da banda de punk rock, foi tocada em seguida. O segundo cover veio no bis seguinte, comRockin’ in a Free World, do lendário Neil Young, amigo pessoal da banda.

Em retrospecto, o grunge enquanto gênero não deixou tantos herdeiros competentes quanto o lo-fi de Pavement e Neutral Milk Hotel, bandas que ocupavam outro espectro do rock mas dividiram com grupos como o Pearl Jam a função de romper com os anos 80.

Pouco importa; a clara devoção que Eddie Vedder e cia. têm ao seu métier deve garantir mais umas boas décadas de apresentações competentes, mesmo que levemente dependentes de canções do início de sua carreira, e relativas a um passado cada vez mais longínquo.

Setlist

Release
Corduroy
Why Go
Animal
World Wide Suicide
Got Some
Even Flow
Unthought Known
Whipping
Daughter
Olé
Down
Save You
The Fixer
Do The Evolution
Porch

BIS 1
Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town
Just Breathe
Come Back
I Believe In Miracles (Ramones cover)
Alive

BIS 2
Comatose
Black
Better Man
Rearviewmirror
Rockin’ in the Free World (Neil Young cover)

Fonte: O Estado de S. Paulo





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